quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Fito Figueiroa


" Quando en el cielo pasen lista " parte 2


Logo no nosso primeiro jogo nos defrontamos contra a aguerrida equipe uruguaya. Houve nessa competição, ganha pelo Brasil, a maior batalha campal que pude presenciar em toda a minha vida, protagonizada pelas Seleções Uruguaya e Argentina e culminando com a entrada de ambulâncias dentro da quadra para recorrer os feridos. Os jogos posteriores os tivemos de jogar com a presença de militares do Batalhão de Exército da cidade de Corrientes.
Ao finalizar o jogo final contra a Seleção Paraguaya, no qual vencemos pela contagem mínima a uma excelente esquadra guarany, resolvi depois de uma breve comemoração no Hotel, sair e caminhar pelas ruas de Corrientes, cidade fronteiriça ao território paraguayo, com uma população de fortes traços indígenas. A área a qual conformava o centro mais movimentado daquele pequenino município era constituída apenas de três ou quatros quarteirões. O clima quente e seco obrigava os donos de bares a colocarem mesinhas onde aos clientes eram servidas as cervejas e os refrigerantes bem gelados. Recorrendo essas ' calles ' observei no lado oposto, um senhor de fisionomia não correntina, de terno e gravata azul. Era êle. Solitário entre um grupo de mesas vazias de um bar deveras modesto. Percebi quase por instinto o desejo de Dom Fito em desejar estar tranquilo depois de o campeonato haver-se consumado. De repente, volteou-se, fitou-me (trocadilho), alçou-se sorridente e com um sinal de braços convidou-me a cruzar a via e acercar-me em sua direção. Aproximei-me meio sem jeito, realmente com notória timidez e logo ao chegar fui parabenizado pelo título “incontestable”, dito por êle. " Acompañe a este viejo señor. Venga, no permitas que beba solo, sientate joven por favor. Que deseas beber?? " Una cerveza señor. Gracias por la invitacion "
Da primeira a última garrafa confesso que foram várias e a medida que a conversa prolongava-se, mais interessante tornava-se. Durante esse espaço de algumas horas surpreendeu-me sua visão sobre os distintos assuntos de nossa agradável tertulia. No lado esportivo disse-me algo em especial que o deixava bastante aflito e alvoroçado. O posicionamento do Presidente da FIFUSA daquela época, do Rio de Janeiro, diferente ao anterior Presidente que era de São Paulo, devido a um possível entendimento com a FIFA. Fito, como Presidente da Confederação Sulamericana de Futebol de Salão era frontalmente contra tal projeto. Lembro-me dizer “Ponga atencion mi joven. Ojala, le digo de corazon e con certeza absoluta, que el futbol de salon se quede siempre muy lejos de la FIFA ". A conversa foi derivando até que ao ser provocado por mim, perguntei-lhe sobre a situação política atual e o Movimento Tupamaro de contestação ao regime militar uruguayo. Relatou-me então sobre o duro que era sobreviver em seu país naqueles dias e que havia conhecido épocas bem melhores. Narrou-me que alguns dias anteriores ao início desse sulamericano, enquanto jantavam, um atleta foi abordado e levado pelo exército a um local desconhecido. Êle seguramente seria interrogado e sofreria, não se sabendo se retornaria ao convívio familiar ou não. Em seu trabalho de periodista era vítima de forte censura, inclusive havia infiltrações, informantes, dentro do próprio jornal, provocando desconfianças e medo entre colegas. “Eso es Horrible. Te hacen alejarse asta de lo mas cercano de los amigos ". Manifestou-me ele de que tanto a extrema esquerda e a extrema direita tinham exatamente os mesmos métodos: Censura, perseguição política, violência, tortura, etc.... Acreditava na liberdade e na soberania da decisão popular como pilares de qualquer sociedade civilizada. Não acreditava no comunismo russo, ou cubano ou chinês e tão pouco no capitalismo selvagem e sem escrúpulos morais. Lembro-me bem desta frase " O comunismo perderá a guerra tecnológica ".

O tempo voou e confesso não haver notado. Ele conversava colocando a emoção em evidencia, cativando a quem tivesse a felicidade de estar ao seu lado. Nos despedimos, nos dirigimos caminhando até o nosso hotel e ao chegar-mos a ele, deu-me um forte aperto de mão. “Gracias joven. Eres um buen joven y estoy absolutamente cierto que pronto nos veremos”. "Absolutamente cierto " ,mirando-me seriamente RSRSRS.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Zego!
Nunca deixo de ler as suas "memorias". Nao comento porque a maioria das vezes, sao reflexoes de uma época vivida, em que eu nao estava presente. Mas voce me conhece. Quando o assunto é política...
Longe dos dogmas comunistas ou capitalistas, depois da caída do muro de Berlim, com a chegada de "liberdade", o mundo passou de ter 300 milhoes de pessoas famintas a ter 1 billon, 300 mil. Uma subida considerável. O numero de pessoas por debaixo do umbral de pobreza, "pobres que sao livres só para mal comer" se multiplicou na mesma proporçao dos famintos. Hoje nos países do leste europeu, ex comunistas, os partidos de esquerda ganham força. Os mais velhos recordam com carinho o tempo em que viviam, comiam estudavam. Sem embargo os seus filhos, "livres", tem que sair correndo, buscando trabalhos no resto da europa, sendo explorados e marginalizados. ma coisa voce e o seu amigo tem razao, neste ultimo relato. Estas pessoas hoje sao livres. Nao comem, nao estudam, nao tem saúde. "pero enfin, libres"
Um grande abraço professor,
Adolfo