sexta-feira, 30 de outubro de 2009

"Fito Figueiroa" (6)


Relativo Aprendizado



Meu período uruguayo foi produtivo mas um aprendizado a meias. Foram várias curtas viagens, como já sabem, onde minha permanência era algo cômoda. Não tinha eu preocupações com as tarefas do dia a dia, as quais vão polindo o espírito humano. Não cozinhava, pois comia no restaurante do clube, nem lavava, passava ou limpava salas, cozinhas, banheiros ou quartos. Um hóspede com certas regalias, assim que tive tão somente um conhecimento parcial do que significava estar só e depender integralmente de minha cabeça, tronco e membros.
Meu pensamento estava todo voltado ao meu trabalho e ao que acontecia ao redor dele. Chopo e eu dependíamos em quase todos os aspectos da liderança, dos contatos e principalmente da confiança que nos era proporcionada por Fito Figueiroa. Ele sempre dava um jeitinho, apesar do pouco tempo que possuía devido aos inúmeros afazers seus, de acompanhar e estimular o que estava sucedendo no aspecto esportivo com sua comissão técnica.
Abro aqui uma janela, para poder ubica-los melhor também no ambiente sócio-político que se vivia na Republica Oriental da época. Aquela conversa com Fito em Corrientes, Argentina, muito descontraída por sinal, jamais pude te-la livremente pelas ruas de Montevideo, apenas em residências particulares com pessoas entre si, muito confiáveis. Quando alguém comentava suas opiniões sobre os militares ou tupamaros, antes passavam uma vista de olhos para terem certeza de que não havia ninguém por perto. O interlocutor transmitia a este forasteiro norteño como eu ( como dizia Fito fitando-me em tom de brincadeira ), a sensação de pavor refletida em seus rostos pálidos de medo.
Devo aqui testemunhar, de forma mais sincera possível, que apesar de toda repulsa possível aos métodos militares, os tupamaros uruguayos ou Montoneros argentinos ou MR-19 colombiano ou sendero luminoso peruano, etc.... etc....estes não lograram obter o apoio popular necessário para fazer o povo ir as ruas a seu favor e de forma maciça. Bombas deixadas em automóveis ou em lugares públicos, seqüestros, assassinatos indiscriminados onde até os guardas de transito ou de rua eram considerados inimigos ideológicos, ocasionaram um distanciamento entre esses movimentos e suas populações em geral. Lembro-me certa vez em Bogotá, da invasão do MR-19 ao prédio do Palácio da Justiça, no centro da capital colombiana. Encontrava-me eu a poucas quadras dali. Um tanque Urutu, fabricado pela fabricante brasileira Engesa, colocou abaixo a enorme porta do Palácio, momento este que saiu estampado em foto nos jornais de todo o mundo. Advogados com seus clientes muitos deles humildes, funcionários de limpeza ou da cozinha, guardas de segurança e até crianças acompanhando os pais sucumbiram vitimas da tragédia. Quanto aos tupamaros, era freqüente eu ouvir das pessoas o respeito ao caráter e até ideologia do movimento sem todavia simpatizarem, de forma alguma com suas ações armadas.

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