segunda-feira, 20 de julho de 2009

Argentina (5)


O ano de 1986 iniciava-se com agradáveis perspectivas esportivas, todavia para a economia do país não havia muito a comemorar. Havia estado na Argentina em diferentes épocas e infelizmente a cada viagem, acompanhei o empobrecimento de sua população. Minha mãe adorava viajar e Buenos Aires era uma de suas cidades preferidas. Para minha genitora, fosse como fosse, em avião, ônibus, carro, trem, simplesmente não havia tempo ruim. Aprendi com ela que conhecer um lugar é fundamentalmente ter contato com a população desse povoado, vila ou cidade. São as pessoas que dão forma, conteúdo, vida e alma a uma pequena aldeia ou a uma enorme megalópole. Ir a Paris, Bogotá, Araraquara ou Tapejara e não conversar com ninguém, pouco, muito pouco pouco mesmo se conhece. Foram duas viagens a passeio, 1968 e 1973 e duas a trabalho, em 1983, por 20 dias e 1985, quase dois anos. Em 1983, durante o curso nacional para treinadores, percebi um povo entristecido, recém saído de uma guerra das Malvinas e muito dividido entre porteños e não porteños. Faz-se ressaltar que a maior parte daqueles jovens soldados, sobreviventes ou não, pertenciam às províncias mais pobres, como Corrientes por exemplo.
O Presidente Alfonsín, eleito em 1983, empenhava-se em melhorar uma economia que se debilitava a cada ano para tentar retornar aos saudosos tempos do passado. Lembro-me que em 1973, eu e minha mãe sentimos na pele a euforia popular nas ruas, bares, rádios e televisões levada aos limites do delírio. Era o retorno do General Juan Perón que estava prestes a ocorrer e este General, de singular história para a nação, era descrito nos programas televisos de "entonces" como o herói do seriado preferido na época, o "Zorro", que iria "echar a los malos y establecer la justicia y bien estar al pueblo argentino". Em seu retorno, no aeroporto de Ezeiza, grupos armados como os Montoneros exibiam faixas provocativas aos militares com revolveres em punho. Minha mãe então decidiu não sair à rua naquele dia e acompanhamos tudo pela concorrida televisão do hall do hotel repleto de argentinos e não argentinos.

segue

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