quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Argentina (9)


" Aquela alma penada "


As perspectivas para o ano seguinte ( 1986 ) eram animadoras para mim e se confirmaram em seu início. Pedidos para cursos surgiram inúmeros, lógico, sempre com a ressalva das dificuldades econômicas realmente reais. Incrementei mais viagens percorrendo a Argentina de cima para baixo e conhecendo pessoas admiráveis como o Sr. Plocher de Misiones, filho de imigrantes alemães e Cocou, entusiasta de Ushuaia, cidade mais austral do mundo. Foram vários cursos em diversas cidades. No Newell's continuei como jogador e auxiliar técnico do amigo Caruzo e os objetivos para este ano eram mais ousados, pois não lutaríamos pelo descenso, mas sim para chegar ao quadrangular final e disputar o título regional mais importante do país. O Rowing Club, clube querido, colaborava em tudo com meu outro grande amigo JuanJo e começávamos a terceira divisão rosarina com os rapazes e meninos bastante animados. Alem dos treinos e jogos nos reuníamos aos domingos a noite, convidado que era sempre para o asadito com todos. Seguia almoçando também com os amigos da Dona Maria durante os dias de semana, onde o filho do dono, Nacho, companheiro para tudo, juntava-se com os garçons depois do horário de trabalho. Todo o dia para mim era muito especial, trabalhava bastante e repito mais uma vez, me sentia realmente querido por toda aquela gente.
Na pensão de Dom Pepito, fatos novos e engraçados ocorriam a todo instante. Ele era um Hebreu (cosso assim gostam de serem chamados os judeus) uma pessoa boa de verdade, mas especial, que sempre abreviava seu sobrenome para que ninguém soubesse sua nacionalidade, pois havia nessa época na Argentina alguma xenofobia contra essa etnia e incidentes ocorreram em Buenos Aires, alguns graves. As histórias eram muitas e vou relatar apenas um de entre muitas. Começou a surgir um rumor entre os pensionistas, a principio como um assunto sério, que pelas madrugadas escutava-se ruídos estranhos na cozinha da pensão. Ao que parece Dom Pepito, deveras supersticioso, tomou a coisa com algum temor e preocupação. A partir daí os rapazes aproveitaram a deixa e a cada espaço de dias, inventavam algum acontecimento incomum deixando aflito o nosso estimado hospedeiro. Sua preocupação também era de que,
espalhando-se a notícia da pensão mal assombrada, pudesse prejudicar seu negócio que era o de hospedar estudantes. Parece bobagem, mas ele realmente via desta maneira alem de que ele não gostava que ninguém la morasse grátis rsrsrs, mesmo que fosse alguém tão estranho. Os estudantes então comprometeram-se nada dizer aos vizinhos, principalmente a Señora Marguerita, nada simpática e pediram se naquele mês Pepito não aumentasse o valor mensal da hospedagem ( naquela época a inflação era de quase 30 por cento ao mês na Argentina ), pedido este, devido as circunstancias especiais, atendidos por "Pepito'
Para tentar resolver e afugentar aquela inconveniente alma caloteira, foi requerida a presença de um cura (padre) especializado imagino nesses delicados temas. Os rapazes e moças então programaram-se todos para aquela visita bem especial de um exorcista profissional de turno. Conseguiram convencer a "Pepito" que a visita ecumênica deveria ocorrer à noite, pois nosso oculto companheiro de albergue agitava-se somente durante as horas da noite. Na verdade, os universitários estudavam durante o dia e ficariam decepcionados se não presenciassem in locuo tal performance do sobrenatural.

Naquela noite, ele chegou com a batina negra, com seus trinta e poucos anos e tão curioso nas perguntas quanto tenso, "Pepito" tratou logo de o convidar para dentro, longe dos olhares indiscretos da Señora Marguerita, proprietária de uma pequena casa de doces em frente e fofoqueira numero um do pedaço. A cozinha e a sala ficavam abaixo e nos quartos onde dormíamos localizava-se acima subindo as escadas. Quartos dos rapazes de um lado, das moças dou outro e no centro o quarto de Dom Pepe estrategicamente no centro para evitar que qualquer moça ou rapaz “equivocassem de quarto”. Enterado já de tudo, o Sr. padre dirigu-se vagarosamente a cozinha e pediu apenas a presença de dom Pepito. Acima os estudantes brigavam pelos melhores postos de observação sem serem vistos. Só pudemos ver a entrada do cura, circulando olhares para todos os lados, emitindo frases inaudíveis para nós acima no primeiro piso. Dom Pepito a seu lado estava pálido e realmente cheio de medo. Acima, entre risos abafados e contidos, rapazes e moças entravam e saíam dos quartos relatando o que viam e trocando constantemente os lugares nos postos de observação. Ao final o nosso exorcista, cheio de ares vitoriosos deixou o local, aliviado.
Concluo aqui que ao evitar que Dom Pepito aumentasse o valor das mensalidades dos pobres estudantes e fortalecendo o ego do clero local, digo que a alma penada, para mim, foi gente muito boa....rsrsrs.....O que vocês acham????

Obrigado

Um comentário:

grecocarolina@virgilio.it disse...

Hola Zego, te recuerdo con mucho cariño y aún hoy sigo al lado de Juanjo en su entrañable labor por poner al Futsal rosarino en el lugar que le corresponde!
son ciertamente palabras que están ligadas desde el corazón pero la verdad es que pocos en Rosario la siguen "peleando" para darle la relevancia que este noble deporte debiera tener.Cariños, Carolina.