terça-feira, 13 de outubro de 2009

Fito Figueiros (4)

”O Café "


Ao encerrar-se o torneio, depois do banho no próprio ginásio, conversei brevemente com Dom Fito nos corredores do Palacio Peñarol, marcando um encontro para após o almoço. A intenção era a de colocar-mos nossos assuntos, já previamente encarrilhados pela troca continua de correspondência, em dia. Prometeu-me também mostrar-me um pouco de Montevideo através de um passeio rápido em sua mobilidade, se não me falhe a memória, Ford Falcon azul escuro. Era raro naqueles anos, ver pelas “calles” da capital uruguaya algum veículo relativamente novo. Abundavam automóveis de vinte, trinta e até 40 anos de uso e só aqueles muito aquinhoados possuíam um zero quilometro, ainda que fosse um modelo bem popular.
Dom fito, com pontualidade britânica, veio buscar-me para esse entretido momento de lazer. Dirigiu-se até o início da rambla e a recorremos com prazer até a praia de Carrasco, retornando pelo mesmo trajeto. Em seguida adentramos ao centro da cidade, onde se encontra a cidade velha. Escutava muito entretido todas indicações de Dom Fito, tudo o que o ouvido podia captar e o olho enxergar. Nenhuma rua ou avenida escapava da atenção de meu prezado amigo. Desde logo é muito bom conhecer um lugar através dos relatos de seus próprios habitantes, apenas eles conseguem perceber tanta beleza simples escondida em cada pedacinho de terreno.
Meu "cicerone", com dificuldade acentuada, rsrrs, estacionou seu Falcon de frente a um Café realmente antigo em tudo. Desde a decoração, mesas, copos, talheres, etc....até e principalmente o proprietário, clientes e os moços ( garçons ), senhores de muita idade, super educados e lentíssimos. Tão lentos que para moverem-se das mesas dos clientes ao balcão do bar tardavam idêntico tempo que um nadador de nível regular demorava para cruzar o Rio de La Plata em estilo "borboleta". Os fregueses daquele Café revelavam intimidade com o dono e os garçons. Eram casais idosos conversando baixinho, pausadamente, elegantemente trajados propiciando juntamente com uma suave musica ao fundo um ambiente apropriado para uma conversa tranqüila e produtiva.
Trocamos idéia, pareceres, orientações e ao final esboçamos para o futuro um projeto de desenvolvimento da modalidade desde a base, tendo como motor de arranque os juvenis. Pediu-me Dom fito, absoluto sigilo e disse-me que no ano seguinte colocaria o Treinador Nacional Rolando Muniz ( que nada sabia deste encontro )), em contato comigo para entre os três, dar-mos vida a um programa de metas trabalhoso mas perfeitavemente alcançáveis. Fito acreditava muito na capacidade e dinamismo do selecionador escolhido por ele, mas preferia ter certeza de que iria mesmo eu a Montevideo para depois reunir-se com “Chopo Muniz”.

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